sábado, 1 de agosto de 2009

Foi apenas um sonho (que não se concretizou)!


Bom dia, caros leitores (que aumentam cada vez mais, para minha surpresa),
O atrasado post de hoje será sobre um filme que assisti ontem com minha mãe, que me impressionou de todas as formas possíveis. Enfim, houve o esperado reencontro dos atores de Titanic (1997) em um filme que retrata basicamente o vazio existencial humano e a tristeza de encarar a dura realidade vivida por casais do mundo inteiro, que vêem a necessidade de viver sem toda a paixão do início do relacionamento, em meio a uma rotina desgastante e sem emoções.

Primeiramente, antes de comentar sobre o enredo do longa-metragem, gostaria de ressaltar o talento dos protagonistas Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, que encarnaram de forma brilhante e convincente a vida de um casal que vive um dramático dilema, e sobre o diretor Sam Mendes (American Beauty, 1999), que fez o seu retorno triunfal à indústria cinematográfica com esta obra-prima. De fato, DiCaprio tem um potencial fortíssimo para atuar em filmes dramáticos, pois deu vida ao seu personagem de forma vivaz e transparente, com as emoções contagiando a mim e a minha mãe a cada diálogo que se passava envolvendo ele e sua esposa, interpretada pela genial Kate, uma das melhores atrizes contemporâneas (senão a melhor), e os demais personagens.

Outro destaque do filme é o ator Michael Shannon (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), que encarnou o ex-matemático-atual-maluco de forma fantástica, uma vez que conseguia ofuscar artistas consagrados, como os que já foram citados anteriormente, toda vez que abria sua boca para iniciar diálogos "insanos” com os mesmos e expressar suas opiniões completamente avessas à realidade que se imperava no subúrbio norte-americano dos anos 50. Seu personagem tem uma importância enorme na história, já que sua função narrativa é comentar e criticar os dilemas vividos pelo casal, de forma mais inconveniente possível.
Em suma, o filme é uma adaptação do renomado romance de Richard Yates, publicado no ano de 1961, considerado um clássico contemporâneo da literatura, e que retrata de forma amarga e verossímil a realidade melancólica vivida por membros da classe média que, a meu ver, sobrevivem em um subúrbio estadounidense, de modo a lidar com lindas paisagens, belas casas, maravilhosos vizinhos e, contraditoriamente ao estereótipo, um enorme sentimento de vazio e frustração.
Assim vivem Frank Wheller e sua esposa April, com seus dois filhos. Um casamento claramente fracassado e maçante, demonstrado logo no início do filme com uma briga fenomenal. No passado, April estudou e se empenhou arduamente para ser uma atriz respeitada, mas frustrou-se ao perceber (e ser julgada pelo seu próprio marido como "sem talento") que isso jamais acontecerá, visto que seu destino tomou um rumo diferente (pior!), e ela passou a ser uma dona-de-casa infeliz, mascarada como feliz e exemplar pelos seus vizinhos e conhecidos.
Ademais, Frank passa por um dilema semelhante ao de sua mulher, pois, no passado, era um rapaz cheio de sonhos e dúvidas, com um ar de "jovem promissor", que encara uma realidade completamente contrária à que aspirava. Bom, ele trabalha em uma empresa que detesta, com colegas ainda mais detestáveis, com um salário mediano e sem muitas perspectivas de crescimento. Desse modo, ambos são prisioneiros de uma vida guiada por necessidades básicas, insuportável, que os mantém cada vez mais afastados e insatisfeitos, o que pode ser considerado um conflito universal.
Enfim, tal conflito leva o casal a tomar uma drástica e "infantil" decisão, que com certeza já passou pela mente de milhares de pessoas: abandonar tudo! Em seguida, seguiriam para Paris, onde April trabalharia como secretária do Governo e Frank teria tempo para estudar e ler sobre suas possíveis escolhas profissionais, que o deixariam feliz e realizado pessoalmente. Tal decisão parece provocar repulsa e inveja nos amigos, que possivelmente vivem o mesmo dilema, e deixam bem clara a desaprovação quando são informados sobre a novidade. Para os vizinhos, os Wheller representam o molde de casal perfeito, e tal idéia era completamente maluca e contraditória ao que eles então aparentavam, uma vez que era "irreal", como eles mesmos comentam.
Este retrato traçado de forma admirável por Sam Mendes apresenta vários pontos em comum com "Beleza Americana", filme que marcou a estréia do então diretor de teatro para o cinema, como por exemplo, o fato de ele optar pela exposição nua e crua da intimidade do casal suburbano, fazendo-nos sentir a angústia que os cerca, em que todas as escolhas envolvem perdas de sonhos e insatisfação pessoal. Em certo momento, a realidade logo os traz de volta à vida, e eles tomam uma decisão que será fundamental para o desfecho da história.
Uma crítica que li na internet sobre o filme chamou minha atenção e eu concordo profundamente com ela: "O diretor demonstra sutileza na condução do roteiro, ao realizar uma bem disfarçada mudança de ponto de vista no meio do segundo ato. A narrativa, até então mostrada do ponto de vista do homem, subitamente muda para o ponto de vista da mulher, a partir de certo acontecimento que altera radicalmente o rumo da história. Mendes também usa o som de maneira criativa, seja na construção de um universo sonoro que remeta o espectador à década de 1950 (com canções incidentais e também com a discreta e inquietante trilha sonora de Thomas Newman), seja realçando silêncios (como na tomada final) ou amplificando ruídos para enfatizar aspectos emocionais da narrativa".
Portanto, meus caros, aqui fica o conselho: aproveite a temporada preguiçosa e alugue "Foi apenas um sonho", pois garanto que não ficarão desapontados. Ah, para os que esperam um romance hollywoodiano, um comentário: perdeu, playboy! Um beijo e um abraço aos que ficam, vou-me embora.
Até mais, Isadora.

2 comentários:

  1. Belíssimo comentário a respeito do filme Isa.Vc sempre me encanta com sua inteligência e capacidade de interpretação dos filmes. E mais,a respeito do filme sinto vontade de dizer que este retrata como algumas mulheres desde cedo não mostram vocação para o lar(cuidar de filhos,casa e marido), daí também a frustração de April(atriz) que se acomoda com a situação atual mas ao mesmo tempo cria expectativas fora de sua realidade para tentar fugir do trabalho rotineiro,cansativo e pouco valorizado que é o de ser uma dona-de-casa(sem crescimento pessoal)Que é uma capacidade de doação que algumas mulheres têm e outras não(sem a espera de um reconhecimento dos outros).April fica querendo a todo custo convencer seu marido de como seria melhor viver dentro de uma outra realidade onde apenas ela estaria trabalhando e produzindo fora de casa e vivendo em uma cidade que não fosse provinciana, no caso ir para Paris.Mas, qdo sente que seus argumentos são em vão e fora da realidade que vivem vem a covardia dela em se entregar e fugir da situação, deixando a responsabilidade de tudo para seu marido(como uma forma de punir ele por sua infelicidade e frustração).O que na cabeça dela é mais cômodo!Fugir nem sempre faz com que fiquemos livre do problemas, ao contrário, potencializa ele e muito!!

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  2. isaaaaa, vc cada vez mais me impressionando!
    Meu Deus , como vc tem sensibilidade , é inteligente, vou assistir o filme correndooooo..
    ADORO LER SEU BLOG, VER SUAS OPNIÕES...ME MOTIVAM, ME INFLUENCIAMMM...AMO VC, TIA ALEIDA!!

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