sábado, 5 de setembro de 2009

Mentira, a mãe da moralidade.


Olá, caros leitores,

Há tempos não escrevo nada aqui, como podem perceber, mas após assistir um filme inacreditavelmente bom, senti inspiração para abordar sobre um tema que sempre passa pela minha cabeça; uma idéia que sempre me deixou confusa, sem respostas e inquieta; uma palavra tão representativa quanto seu significado: a mentira. O brilhante longa-metragem relata a história de um idealista e enigmático britânico, por vezes visto e chamado de louco, que instaura, literalmente, o caos na "pacata" Inglaterra futurista. Vale ressaltar que ele retrata seus ideais com uma paixão jamais vista no cinema, que torna a história envolvente e polêmica. Bom, vocês não devem estar entendendo o por quê do último adjetivo, mas, assim que assistirem, entenderão do que estou falando.

Em suma, é necessário ser dito que aparecem claras referências ao regime fascista alemão e a grande parte de suas atrocidades (perseguição a homossexuais, religiosos, extremistas e afins, campos de concentração, entre outros), à perdida e insana figura conhecida como Adolf Hitler (chamado de Adam Sutler), ao íntimo e, no caso, superdimensionado desejo de vingança, que por vezes leva indivíduos como V. (o mascarado protagonista) a mover montanhas por um motivo íntimo que acaba por tornar-se universal, já que contagia a uma enorme quantia de pessoas e muda totalmente a história da nação britânica fictícia.

Uma frase, dita no mesmo, deixou-me encantada, pois tem um grande significado, visto que demonstra de forma sintetizada os ideais de um típico anarquista, que, a meu ver, defende pensamentos mensuráveis e nada utópicos. Infelizmente, pessoas como V., se é que ainda existem, não são facilmente compreendidas, uma vez que representam a minoria intelectual, ou seja, os poucos que conseguem refletir sobre as condições em que vivem, sobre as injustiças com as quais lidam a todo o momento, e com as consequências das atitudes governamentais de seu país, sem ficar calado, sem consentir com tudo. Enfim, são pessoas que não engolem facilmente o que lhes é transmitido. Bom, a tal frase é a seguinte: "O povo não deve temer seu estado. O estado deve temer seu povo."


Refletindo sobre todos os diálogos e críticas que aparecem no filme, essa frase, de fato, é a mais pobre. Os leitores que já tiveram o prazer de ver "V de Vingança" sabem do que estou falando, acredito, pois puderam ter contato com as mais inteligentes indagações feitas, na maior parte das vezes, pelo protagonista. No entanto, achei justo citá-la, pois, por mais pobre que seja (quando comparada com as demais), não deixa de ser mágica. A meu ver, é verdadeira e ambiciosa, como os ideais anarquistas, que são encarnados em uma figura interessantíssima, capaz de deixar os expectadores apaixonados pela sua fibra. Não deixa de ser um sociopata, é claro, mas, tal como a maioria dos loucos, apresenta um enigmatismo contagiante.


Contudo, apesar de escrever com prazer sobre o filme, temo em avisá-los que venho por meio deste escrever sobre outro tema, a mentira. Enfim, indago a vocês, críticos e leitores, sobre algo que sempre pensei e nunca consegui achar uma explicação plausível... Por que sentimos a necessidade de criar máscaras para enfrentar o mundo? Bom, alguns podem pensar que tal questionamento não faz o menor sentido, inclusive vão pensar "eu não uso máscaras, sou exatamente como eu quero e não há nada nem ninguém que mude isso!".


Pois bem, meus caros, confesso que já pensei assim. Sinceramente, acreditava que eu era movida pelas minhas crenças, pelos meus ideais, pela minha personalidade, e pouco importava o mundo e as outras pessoas. É uma grande ignorância, pois estamos a todo momento sendo influenciados por pessoas e fatos, o que faz com que mudemos a cada instante. Como diria Lavoisier, "nada se perde, nada se cria, tudo se transforma", creio que somos assim. Temos nossa essência, temos personalidade, é óbvio, mas mascaramos isso de acordo com certas situações e pessoas, para que possamos sair beneficiados, ou menos prejudicados.


Quantas e quantas vezes você já não fez tipo para um "paquera", para que parecesse mais interessante? Quantas e quantas vezes você tentou transparecer confiança, quando na verdade estava inseguro até o último fio de cabelo? Quantas e quantas vezes você já não contou uma mentirinha em alguma história, para que esta ficasse mais interessante? Quantas e quantas vezes você fingiu concordar com certas coisas, só para não polemizar com certas pessoas? Quantas e quantas vezes, quantas e quantas vezes. É, confesso que já menti e minto a todo momento, e acredito que isso seja algo inato dos seres humanos, conhecidos pela sua racionalidade.


Não obstante, existem certas situações em que o uso das mentiras é desnecessário, aliás, é dispensável, como todos já sabem. Necessita-se de bom senso, caráter e juízo! Uma mentirinha aqui e outra ali, tudo bem, mas tudo tem seu limite. Mas o que quero dizer é a conclusão que tenho de tudo isso: sem a mentira, estaríamos perdidos. Pensem comigo, certamente viveríamos em um caos explícito, o que seria, a meu ver, o fim dos homo sapiens. A politicagem, os puxa-saquismos e afins representam a base da nossa "moralidade".


De fato, se disséssemos a verdade e só a verdade para todas as pessoas, não teríamos respeito nem sequer o carinho de ninguém. A civilização seria um bolo enorme, cujas receitas seriam basicamente o ódio e a irracionalidade. Voltaríamos aos tempos primatas, acredito. Seríamos macacos raivosos e sem papas nas línguas, pois toda ação tem uma reação, e imagine só o conjunto de reações caso a realidade fosse assim!


Portanto, o que gostaria de debater é, vale a pena viver na mentira? Será que isso vai durar muito tempo? Por que essa antítese é tão paradoxal, já que sendo imorais (ao mentir) somos morais? Bom, o meu medo é pela sociedade, aliás, pela animalidade, ao passo que assim nunca seremos livres. Ficamos tão presos, tão robotizados nesse sistema que programa o nosso caráter, sem que percebamos, que acabamos acreditando que somos livres, quando na verdade estamos fadados à prisão e insatisfação pessoal pelo resto de nossas vidas.


Em suma, para mim não existe nada melhor do que a verdade, ainda mais quando dita em momentos sinceros e/ou impulsivos. Adoro dizer o que penso, provocar as pessoas com minhas opiniões, defender os meus ídolos e as minhas paixões e pagar um preço por isso. É óbvio que eu pago, tal como os que se entregam ao que acreditam. Mas não é por isso que vou ceder. Posso parecer mais uma jovenzinha hipócrita, mas acredito honestamente no que prego.


No entanto, vamos ver se dura. Até então está ótimo, obrigada, mas é possível que acabe, que eu pague língua, pois a vida é imprevisível e efêmera, e são as mentiras as grandes imperadoras deste reino de imbecis. Ademais, gostaria de deixar uma mensagem a todos:


"Ainda que nossa integridade valesse pouco, era tudo o que tínhamos"


Um beijo e um abraço, Isadora.