segunda-feira, 18 de julho de 2011

A ditadura do amor


Ultimamente tenho pensado e repensado inúmeras questões, mas uma em particular tem tomado conta dos meus neurônios: O amor. Não é a primeira vez que venho escrever sobre ele, tampouco é a primeira vez que me pego pensando nesse emaranhado de sentimentos que é o amor, a meu ver.

Ele é capaz de mover montanhas, mas ao contrário do que a lenda popular prega, não é eterno. Acredito que possa, sim, ser reciclado continuamente mediante esforço e paciência, porém, não acho que por si só ele se sustenta. Não existe por existir, sobrevive. As chances de desaparecer em um determinado relacionamento são incontáveis, por isso é necessário cultivá-lo.

Ao contrário da paixão, que é de uma intensidade fugaz, o amor teoricamente seria estável e duradouro... No entanto, todos sabem que na prática ele não é assim. Com ele surge uma grande quantidade de elementos que podem jogar qualquer estabilidade no vento. A preocupação, o senso de proteção, os ciúmes, o ódio (e não há qualquer incoerência em afirmar que ele está presente no amor, pois o contrário ao nobre sentimento em questão é a indiferença, vulgo, ausência de quaisquer sentimentos), medo de perder, etc.

Portanto, ouso afirmar que o amor consiste no mais complexo dos sentimentos, justamente pelo fato de trazer em seu âmago a maioria, senão todos eles. A indústria cinematográfica, a literatura e outros canais midiáticos são responsáveis pela romantização do mais realista de todos os sentimentos, o que, por conseguinte, traz inúmeras frustrações nas vidas de nós, meros mortais famintos por amor.

Ao nos depararmos com ele, ficamos assustados por ele não oferecer a simplicidade que supostamente estaria implícita na sua essência, segundo o que eu chamo de “a ditadura do amor”. Esta é a responsável pelas diversas pessoas frustradas sentimentalmente no mundo! La dittatura sanguinaria di amore!

Inconscientemente, criamos a falsa expectativa de que com a manifestação do amor em um relacionamento, seja ele amistoso, amoroso ou familiar, tudo será mais simples. Como se ele fosse a resposta de todos os problemas! Como se pelo fato de ele existir tudo de uma maneira inexplicável estaria parcialmente resolvido. Ao nascermos somos bombardeados com lições de moral, como: “Vocês devem conquistar o amor de alguém, constituir uma família, tornarem-se ricos e bem sucedidos, o resto é resto!”.

O que me incomoda é essa estúpida finalização...”O resto é resto?”Mas é justamente o “resto” que se trata a nossa vida. Enquanto todos esses estigmas do que seria uma vida com qualidade são impostos, colocando-nos na corrida para alcançá-los e conquistar a vida em seu mais alto grau de satisfação, o que sobra? O resto. Até ficar rica, bem casada, bem comida, bem amada e bem sucedida eu estarei fazendo outras coisas, que não necessariamente são desprezíveis só por não se enquadrarem no rótulo imposto socialmente (pelo sistema econômico, pela moral e pela religião, não necessariamente nessa ordem) do que seria aceitável e recomendável.

O amor acaba perdendo sua real essência, pois mistura-se com idealizações criadas por outrém...A vida acaba tornando-se uma fórmula matemática, exata e simples:
Amor + dinheiro = Vida feliz.

Conquistar o amor de alguém já é complicado por si só, uma vez que envolve as questões da reciprocidade e da saúde mental dos envolvidos, pois para ser duradouro o amor implica a reciprocidade do sentimento nos envolvidos e a presença ou ausência de sanidade mental em ambos. Como se o amor fosse uma trilha e as pessoas que se disponibilizam a caminhar por ela devem estar igualmente preparadas para tal. Fazendo uma analogia: Se for uma trilha emburacada (pessoas com neuroses e traumas, por exemplo), quem se disponibilizar a caminhar deve adentrar-se nela em um bom e resistente jipe, para que suporte as dificuldades do trajeto.

Mas a ideia vendida predominantemente nas mais diversas mídias pressupõe que o amor é calmo, eterno e isento de defeitos, passando a tornar-se objeto de cobiça de todos os expectadores. Idealização filha de uma égua velha! O amor está LONGE de ser calmo, eterno e perfeito...Ele é turbulento, sim, mas é aí que se encontra a sua beleza.

Nas complicações que precisamos e devemos passar para manter sua chama acesa, aquecendo a alma e dando suporte nos momentos difíceis. Ele traz dor de cabeça? Traz, e não é pouca, não. Mas quem disse que por isso ele é menos maravilhoso? Temos que nos desapegar das idealizações que nos são impostas e enxergá-lo da maneira como ele se manifesta na realidade: Sendo difícil, certas vezes beirando ao insuportável, mas ainda assim mágico. Não mágico no sentido fantasioso e romantizado, mas no sentido de que inspira o mais belo que existe nas pessoas: O ALTRUÍSMO.

Quando amamos verdadeiramente, abrimos mão de coisas que possam colocar em risco o amor ou o bem estar da pessoa amada. Existe algo mais mágico do que isso? Vivendo em um mundo em que o egoísmo é o grande imperador dos sentimentos, qualquer raio de altruísmo pode ser considerado magia. E que linda magia!