quinta-feira, 24 de maio de 2012

A confiança superficial é padrão nos relacionamentos

A falta de liberdade que o namoro tradicional traz é uma merda. Não sou capaz de encontrar outro adjetivo que qualifique melhor do que este: Merda. Todas as decisões devem ser tomadas de comum acordo, de modo que as escolhas que cada um terá de fazer a partir do momento que se inseriu na relação monogâmica deverão ser dialogadas e meticulosamente negociadas. Quando me refiro a namoro tradicional, quero dizer relação monogâmica entre duas pessoas assumida publicamente tendo como pressuposto básico, e basilar, a fidelidade de um para com o outro. Tenho o hábito de observar o modo como as pessoas ao meu redor se relacionam para tentar entender um pouco mais do funcionamento da nossa espécie, pois é inegável a existência de padrões e tendências perceptíveis na maneira como o homem se relaciona com o próximo. Ao realizar esse exercício voyeurístico, consigo prever certas condutas nas pessoas e sinto um verdadeiro sentimento de onipotência. Não, eu não sou um gênio nas relações interpessoais (estou, aliás, muito distante disso), mas proponham-se a fazer uma observação mais aguçada das pessoas ao seu redor e entenderão o que eu sinto. Nós, seres humanos, somos dotados de uma previsibilidade enorme. Até mesmo pessoas imprevisíveis são previsíveis na sua imprevisibilidade. Deveriam criar uma teoria encima disso. Mas não fujamos do tema... Hoje, particularmente, ao conversar com uma pessoa querida que se encontra, como o Facebook rotula, em um “relacionamento sério”, cheguei à máxima de que a confiança superficial é padrão nos relacionamentos. Alguns poderão pensar: “O que essa retardada está querendo dizer com isso?”, então vou simplificar: Criemos a seguinte mini narrativa: (A), do sexo feminino, possui um namoro tradicional com (B), do sexo masculino; (C), amigo solteiro de (B) o convida para passar o Carnaval em Ubatuba (por exemplo). Opções: 1) (B) aceita com empolgação o convite e simplesmente avisa sua namorada (A) que irá viajar para passar o carnaval com (C) em Ubatuba, que aceita de bom grado a decisão tomada unilateralmente por (B); 2) (B), já com certo desânimo, avisa a (C) que precisará notificar (A) da tentadora proposta e ver se ela “libera” sua viagem. Todos sabem o que acontece em um NAMORO PADRÃO, como já descrevi, não é preciso abstrair muito nesse exemplo fictício para constatar que a segunda opção é a que mais comumente se manifesta. E é isso que me “incomoda”. O motivo pelo qual (A) muito provavelmente vetaria a viagem de (B) com seu amigo (C) é porque não confia nele, portanto, tem-se aí a confiança superficial padrão. Entenderam? Obviamente, ela não diria isso, divagaria sobre as inúmeras razões pelas quais seria uma má ideia ele viajar sem ela para o Carnaval com um amigo solteiro. Porém, a única razão é a falta de confiança na fidelidade do namorado, que estaria exposto a inúmeras tentações. Esse fenômeno da confiança superficial padrão já me acometeu, sim, não vou negar. O “incômodo” que sinto com sua frequente manifestação é da observadora, não da pessoa inserida na relação monogâmica tradicional. É muito difícil confiar no outro, mas acho que uma vez essa confiança conquistada e comprovada sua força, deve ser cega, caso contrário, a relação irá se sustentar em uma mentira, em uma superficialidade, em uma hipocrisia. Os membros do casal dizem confiar um no outro, mas vetam esse tipo de situação explicitada acima. De duas possibilidades, uma: a) As pessoas não são confiáveis, no sentido de que quando se encontram tentadas e/ou direcionadas a cometer algo pecaminoso, muito provavelmente o cometerão; ou b) Uma vez conquistada a confiança no outro dentro da relação, ela deve ser presumida sempre. Ainda que (B) se encontre tentado a trair (A) em Ubatuba, ela deve presumir que ele será fiel e esperar por isso, não o contrário. Esse debate faz com que eu me recorde da obra-prima do cinema, e um dos meus filmes preferidos, “O Advogado do Diabo”. Particularmente de uma frase dita pelo personagem do lendário Al Pacino, diga-se de passagem, em um de seus melhores momentos na carreira: “Freedom, baby... is never having to say you're sorry.”. Traduzindo: Liberdade é nunca ter que pedir perdão. Em suma, estar em um relacionamento implica em abdicar da liberdade pessoal de errar, pois, só pedimos perdão ao outro quando erramos. Dessa maneira, a liberdade dentro dos relacionamentos já estaria fadada ao fracasso, pois é inerente ao ser humano errar e decepcionar o outro (não necessariamente pela traição, que fique bem claro). No entanto, é justamente aí que entra o paradoxo: Ao se inserir em um namoro padrão, você abdica da sua liberdade, mas em troca de confiança, porém esta existe apenas superficialmente. Logo, em um relacionamento, têm-se apenas expectativas e não certezas. Você nunca irá saber ao certo se o outro irá ser fiel e se o relacionamento terá um futuro, você simplesmente mergulhará de corpo e alma, apegando-se à expectativa de que isso se materialize na realidade. Existe algo mais romântico do que isso? É por isso que sou uma eterna romântica, pois o romantismo é comprovado racionalmente. A todos vocês que se encontram em um “relacionamento sério” com alguém, um beijo carinhoso.

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