domingo, 19 de dezembro de 2010

"Sempre mórbida essa menininha..."


Ajoelhada nos pés da cama, onde os dois amantes morreram, Anita diz:

- Essas paredes, as tábuas do chão, portas, janelas, tudo isso é testemunha do que aconteceu entre os dois amantes. E esse espelho, olha esse espelho – Diz Anita caminhando até o espelho - Ele refletiu toda cena de ciúmes, também a morte dos dois, já imaginou que fascinante conhecer o passado de um espelho? Entrar por dentro dele, como Alice? O que você está pensando?

- Que eu tenho que ir embora. – Diz Fernando.

- Assim de repente? Por quê?

- Foi como eu entrei, de repente!

- Volta amanhã...

- Quem sabe a gente se encontra outro dia... De qualquer maneira obrigado, eu estava chateado, deprimido, você salvou meu dia. Espero que não haja rejeição ao transplante! – Responde Fernando se referindo ao vaso de flor que caiu do sobrado de Anita.

- Eu acho que você se aborreceu comigo, eu juro que não sou louca, mas é que... Olha...

- Você está chorando?

- Eu fico emocionada sempre que eu falo na Cíntia.

- Cíntia? Quem é Cíntia?

- A moça que morava aqui, que foi assassinada pelo amante. Ele era Luciano, ela Cíntia.

- Eu usei o nome Cíntia em um conto que escrevi a muito tempo, incrível! No meu conto ela também era assassinada pelo amante... Coincidência...

- Nada é coincidência, tudo está escrito! Não acredita no destino? Acha que foi mesmo por acaso que você entrou aqui? Que a gente se conheceu? Tava escrito, assim como ta escrito que você vai voltar.

- Pode ser... Mas o que está escrito mesmo nesse momento é que eu tenho que ir embora. Tchau... Prazer mesmo!

Fernando termina seu cigarro e desce as escadas...

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