Todos nós deveríamos ser mais desapegados em relação às outras pessoas. Falo isso sem qualquer alusão à poligamia desenfreada, mas no sentido emocional mesmo. Talvez eu esteja falando por mim, em razão das experiências que já vivi, talvez não. No entanto, creio que o descontento em relação ao amor é geral entre a juventude contemporânea. Tanto que nunca se viu tanta “modernidade” no que concerne às relações interpessoais da atualidade. Quem nunca ouviu a frase “nos meus tempos as coisas eram diferentes” vinda de um avô ou tio, dita em tom de lamentação? Deixando claro, antes de qualquer coisa, que não defendo o tradicionalismo das gerações passadas e venha a condenar com um discurso moralista a dita “modernidade” dos relacionamentos em geral dos dias atuais, longe disso, só proponho uma breve reflexão.
O fato é que vivemos no que eu gosto de chamar de a era do grande livre arbítrio sexual. As pessoas estão muito mais inclinadas e dispostas a experimentar de diferentes formas suas sexualidades abertamente do que estavam, por exemplo, nos anos 80 ou 90. E, ao contrário do que se passou nos coloridos e gloriosos anos 60, primeira geração a desconstruir o amor romântico tradicional e propor uma verdadeira revolução sexual, grande parte das pessoas (não todas) hoje em dia não vivem a libertinagem sexual como algo de cunho político e filosófico, porém, puramente como refúgio à insatisfação existencial.
Nós somos a geração preguiçosa, acomodada, entediada, sem grandes objetivos e ambições. Tal como é dito no legendário filme Clube da Luta, “somos a geração sem peso na história”. Sem querer desmerecer as conquistas realizadas nos últimos anos, mas já o fazendo, saliento que nós vivemos para trabalhar, produzir, desenvolver tecnologias e formas que façam grandes empresas enriquecerem, para então consumirmos e continuarmos movendo o sistema, com uma economia desequilibrada, desigual e desleal. Como se já não bastasse tudo isso, soma-se ainda o caos do cenário político mundial. Enxergo como se a democracia estivesse comendo a si própria viva e nós não tivéssemos mais nada para fazer para impedir essa autofagia. Isso para não abstrair em relação à situação do meio ambiente e seu polêmico aquecimento.
Como não ser um suicida em potencial nesse mundo tão cinza? Quando não refletimos a respeito dessa situação robotizada na qual estamos inseridos, levamos a vida com certa tranquilidade e relativa monotonia, portanto, de modo a nos satisfazer, recorremos primordialmente aos prazeres materiais e sexuais. Nunca se esbanjou tanto dinheiro e tanta putaria como na atualidade, já notaram? A mídia, serva fiel do sistema, divulga a ideia de que a felicidade está basicamente nesses dois fatores, e quem irá negar isso, afinal? Basta ligar a televisão e observar como os conteúdos expostos estão poluídos com uma sexualidade banalizada e a apologia ao consumismo desregrado, além de glorificar o status das pessoas ricas (socialites e milionários), como forma de nos induzir a desejar a vida luxuosa que eles levam. Pense em “Mulheres Ricas” e “Keeping Up With The Kardashians”, por exemplo.
Longe de mim negar o quanto sou vítima do sistema como qualquer um de vocês. Não me coloco em posição de superioridade de maneira alguma e digo de boca cheia que quero trabalhar para ter independência e estabilidade financeira para poder viver da maneira como achar que devo sem ter que dar satisfações a ninguém. Ainda que não queira levar a vida regada a excessos luxuosos que a mídia divulga e muitos desejam, quero trabalhar para ter minha grana e não julgo isso como errado e desprezível. O problema reside justamente em construir sua vida encima disso e é essa a minha crítica. Trabalhar única e exclusivamente com a ambição de enriquecer e alçar o status de burguês de respeito. A meu ver, a vida vai muito além disso. Ser burguês não é defeito, o defeito é achar que só se é respeitável quando se é um e por isso deve-se ralar até conquistar esse posto. Se bem que se pararmos para pensar, só se é verdadeiramente respeitado quando se tem grana, mas não quero abstrair mais.
Em suma, vejo muita superficialidade nessa lógica e por isso não compactuo dela, ainda que tenha um milhão (e meio) de outras futilidades em minha mente. Trabalha-se para viver bem e nada mais. Viver bem para uns tem a ver com o modo como a sociedade os enxerga com admiração, para outros tem a ver com a tranquilidade de levar a vida com estabilidade financeira. Para outros, os dois. Não dá para julgar o propósito de ninguém (ainda que eu enxergue como superficial, não é uma verdade absoluta, trata-se de uma opinião relativa, minha), apenas me proponho a refletir como nos colocamos na situação robotizada já discorrida anteriormente.
Quanto à visível libertinagem sexual da atualidade, a crítica não está nas pessoas explorarem a fundo suas sexualidades e vivenciarem fantasias das mais variadas formas. Enxergo isso como saudável e natural e inclusive, recomendável. A raiz de muitas neuroses humanas está na repressão sexual, mas esse já é outro assunto. Em relação ao posicionamento das mulheres nesse quadro, enxergo como afronta aos resquícios de machismo e sou a primeira a aplaudir de pé o fenômeno em questão. É de conhecimento geral que a mulherada conquistou um espaço significativo através do estudo e trabalho perante a sociedade, diversas pesquisas comprovam a relativa soberania no desempenho feminino nas faculdades e no mercado de trabalho. Dessa forma, economicamente independente e com completa autonomia sobre si mesma, a mulher contemporânea padrão samba na cara da sociedade e explora sua sexualidade a fundo, muitas vezes podendo ser estereotipada negativamente por homens mais tradicionais (para não dizer hipócritas, mas né?).
Não estou dizendo que precisamos nos reafirmar como independentes e autônomas sobre nossos corpos através de um comportamento poligâmico e, por vezes, emocionalmente distante. Muito pelo contrário, lidar com um parceiro já é complicado, que dirá com muitos. Contudo, o que eu enxergo nessa conduta sexualmente permissiva e aberta é uma grande insatisfação existencial e tédio. As pessoas mais poligâmicas são geralmente as mais carentes e insatisfeitas emocionalmente. Pelas incontáveis conquistas visam obter, em síntese, afeto. E como julgar essa lógica?
No fundo, TODOS nós, uns mais e outros menos, queremos amar e ser amados em retorno. Por mais que sejam construídas inúmeras defesas, inúmeras vezes muitíssimo bem argumentadas racionalmente, esta é a grande verdade por trás das máscaras que sustentamos frente à sociedade. Acredito que esse romantismo tenha se transformado em cinismo e desdém, logo, entregam-se todos (generalizando) à poligamia desenfreada como escapismo.
Em suma, a fuga da monogamia padrão é vontade oculta de tê-la; o distanciamento emocional através do desapego é medo; a exploração da sexualidade em suas mais distintas formas é fuga da realidade frustrante (intimamente falando). Toda a putaria atual é fruto de um romantismo duramente silenciado.
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