Haverá infelicidade no mundo enquanto as pessoas se contentarem com menos do que merecem. Contentar-se com algo aquém do merecido nada mais é do que acomodar-se com pouco, orientando suas ações e escolhas pelo medíocre, e, inclusive, por achismos impostos.
Ora, conhecer a si próprio é, a meu ver, o mais complexo desafio da vida, sobretudo porque somos seres mutáveis, dinâmicos e altamente influenciáveis pelas forças externas advindas do mundo (Lei da ação-reação, por assim dizer). Imperioso reconhecer isso e flexibilizar os próprios padrões internos, aliás.
Nessa senda, saliento que nenhum de nós nasce conceitualmente pronto, pois vivemos numa eterna transformação, até conseguirmos compreender quais são nossos principais anseios, de modo a tentar atendê-los no fito de alcançarmos, enfim, alguma satisfação (veja-se, falo sobre satisfação e não em felicidade, um conceito mais amplo).
Portanto, a máxima do "quem se define se limita" aplica-se com maestria ao que discorro aqui, haja vista o fato de que quanto mais tabus forem criados acerca da própria essência, mais distante você estará de seu alcance pleno. Obviamente que precisamos de alguns tabus para sustentar o edifício da personalidade, mas a ideia defendida é que estes sejam a exceção. A regra, em síntese, é a flexibilização dos ditames internos, de modo a reagir ao mundo, responder às suas pancadas e afagos de maneira autêntica e não mimética.
Infelizmente, possuímos a tendência de acatar ao que chega a nós "mastigado" pelos nossos pais, pelo sistema de educação, pela mídia, pela religião, etc, sem abstrair ao nosso modo as supostas verdades absolutas do mundo. Como descobrir a si mesmo se há uma indução artificial a conduzi-lo a um caminho padronizado, com fito de uniformizá-lo e adequá-lo ao que a sociedade espera de você?
Os autênticos diferentões e excêntricos são crucificados por fugirem à regra imposta, quando na verdade deveriam ser aplaudidos por sua coragem em REAGIR ao exterior, sem simplesmente SEGUIR os moldes em comento, tal como a maioria o faz há milênios.
Não obstante, fugir à regra não implica necessariamente em lograr satisfação. Quem dera fosse tão simples assim, não? Mas o que defendo aqui é a noção de que os indivíduos capazes de romper com o paradigma social estarão anos luz mais próximos da própria satisfação, isto é, de entrar em contato com o que verdadeiramente anseia para si.
Em suma, o que há de mais difícil é traduzir os desejos da alma. Contudo, uma vez descobertos, a caminhada rumo à concretização destes é muito menos tortuosa, ainda que também haja dificuldade implícita. A título de metáfora, seria como caminhar em um túnel escuro, guiando-se por uma luz ao seu final e não por outros companheiros apenas. A luz simboliza o desejo precípuo do indivíduo, enquanto os companheiros representam as imposições sociais. Assim sendo, reflito: A caminhada no túnel escuro e assustador deve ocorrer de que maneira: Todos no escuro, mas de mãos dadas, seguindo passos pretéritos, numa previsível trilha, ou você sozinho, descobrindo a rota que melhor lhe aprouver na esperança de alcançar a luz ao final? Inovar é, de fato, ASSUSTADOR, minha gente. Por isso acomodamos com menos do que merecemos, fadando-nos à eterna insatisfação existencial. Ficar adstrito aos modelos socialmente consagrados pode ser bom, sim, mas excelente mesmo é dançar a música da vida no ritmo dos próprios passos, ainda que corra o risco de parecer ridículo. P.S.: A inspiração para esse texto veio com o brilhante filme "Antes do Anoitecer", num dos tantos diálogos travados entre os envolventes e deliciosamente neuróticos protagonistas. Quando questionado sobre o próprio casamento por Celine (que, aliás, não é sua esposa, mas uma grande paixão do passado), o personagem Jesse reflete sobre a orientação de suas mais significativas escolhas feitas nos últimos dez anos e o preço pago por elas: "I have this idea of my best self, and I wanted to pursue that even if it might have been overriding my honest self." Traduzindo: "Tenho uma ideia sobre a minha melhor faceta, o melhor que posso ser (eu-ideal = pai de família = imposição social), que eu desejava encontrar, ainda que isso significasse a substituição do meu eu-verdadeiro." Por oportuno, ressalto o preço que Jesse pagou: um casamento altamente infeliz. Destarte, todos pagam um preço pelas decisões tomadas no decorrer da vida. Como diria Neruda: Somos livres para escolher, mas ficamos reféns de suas consequências. Cabe a nós decidir quais escolhas valem a nossa prisão.
Em suma, o que há de mais difícil é traduzir os desejos da alma. Contudo, uma vez descobertos, a caminhada rumo à concretização destes é muito menos tortuosa, ainda que também haja dificuldade implícita. A título de metáfora, seria como caminhar em um túnel escuro, guiando-se por uma luz ao seu final e não por outros companheiros apenas. A luz simboliza o desejo precípuo do indivíduo, enquanto os companheiros representam as imposições sociais. Assim sendo, reflito: A caminhada no túnel escuro e assustador deve ocorrer de que maneira: Todos no escuro, mas de mãos dadas, seguindo passos pretéritos, numa previsível trilha, ou você sozinho, descobrindo a rota que melhor lhe aprouver na esperança de alcançar a luz ao final? Inovar é, de fato, ASSUSTADOR, minha gente. Por isso acomodamos com menos do que merecemos, fadando-nos à eterna insatisfação existencial. Ficar adstrito aos modelos socialmente consagrados pode ser bom, sim, mas excelente mesmo é dançar a música da vida no ritmo dos próprios passos, ainda que corra o risco de parecer ridículo. P.S.: A inspiração para esse texto veio com o brilhante filme "Antes do Anoitecer", num dos tantos diálogos travados entre os envolventes e deliciosamente neuróticos protagonistas. Quando questionado sobre o próprio casamento por Celine (que, aliás, não é sua esposa, mas uma grande paixão do passado), o personagem Jesse reflete sobre a orientação de suas mais significativas escolhas feitas nos últimos dez anos e o preço pago por elas: "I have this idea of my best self, and I wanted to pursue that even if it might have been overriding my honest self." Traduzindo: "Tenho uma ideia sobre a minha melhor faceta, o melhor que posso ser (eu-ideal = pai de família = imposição social), que eu desejava encontrar, ainda que isso significasse a substituição do meu eu-verdadeiro." Por oportuno, ressalto o preço que Jesse pagou: um casamento altamente infeliz. Destarte, todos pagam um preço pelas decisões tomadas no decorrer da vida. Como diria Neruda: Somos livres para escolher, mas ficamos reféns de suas consequências. Cabe a nós decidir quais escolhas valem a nossa prisão.
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