Há um novo rótulo no que se refere às mulheres e ao papel que ocupam nos relacionamentos em que se inserem. Primeiramente, cumpre dizer que tudo que diz respeito às relações interpessoais, sobremaneira o que envolve romance, é deveras complexo. E haja paciência e força de vontade para lidar com as inúmeras intempéries que surgem no desenvolvimento de uma relação, independentemente do aprofundamento de sentimentos manifestado.
Venho hoje discorrer acerca de um papel muito comum, mas que não recebe o apreço devido nas grandes obras de romance, sejam livros ou filmes: o de musa inspiradora.
Uma musa inspiradora é aquela mulher fascinante, envolvente, especial de maneira que estar com ela não é como estar com as demais. É diferente, novo, excitante, porque ela é diferente, tem um quê a mais; com ela as coisas parecem fluir, fazem sentido; em sua companhia, as coisas são mais belas, mais reais, você se sente mais homem, mais capaz, e até mais interessante, por tabela. Seu universo combina com o dela, e por um momento ela é a eleita...Por um breve momento.
No entanto, a musa está fadada a apenas encantar, ainda que exista verdadeira mágica nesse encantamento, sozinho ele se esvai, se perde, acaba. Em síntese, a musa inspiradora raramente é promovida ao papel de escolhida, pois a musa é fase, representa um momento, aquele efêmero instante que se precisa mais do que nunca de um pouco de luz, de risos fáceis, de sexualidade à flor da pele e uma dosagem de empolgação.
A musa é usada e abusada, ainda que durante o processo seja intensamente amada e, por que não, considerada? Contudo, reitero: jamais será a escolhida, eleita ao posto de exclusiva companheira, namorada, esposa, ou o que quer que seja.
Um clássico exemplo de musa inspiradora é a sedutora Alice, do genial e imperdível "Closer - Perto Demais", um filme, diga-se de passagem, necessário, para não dizer mais. Ao longo do filme, nota-se um quarteto amoroso, no qual Alice protagoniza como musa do personagem de Jude Law, um jornalista mal sucedido e sem grandes aspirações, que a partir do momento em que fita seus olhos nela, encanta-se, passando a usar de sua vida e personalidade como material para seu livro e, obviamente, para reafirmar-se enquanto homem.
Ela o fazia se sentir especial, então assim ele construiu certa dependência do relacionamento construído por ambos. Até que surgisse Anna, a fotógrafa, que se torna objeto de seu afeto obsessivo, até o momento em que é promovida ao papel de escolhida, no decorrer do filme.
E Alice?
Serviu como musa para depois ser trocada, dispensada, eliminada da equação...Até o momento em que ele precisasse de uma nova dosagem de inspiração. E, assim como costuma acontecer na realidade, a musa sucumbe à tentação, dando ao homem uma nova oportunidade, até que ela mesma se canse e dê um glorioso pé na bunda dele. Oh, the blower's daughter.
Outro exemplo de caso clássico de musa inspiradora retratado no cinema é a Penny Lane, do épico "Quase Famosos". O brilhante guitarrista foi mais uma vítima de seus encantos, em razão do brilho sedutor que ela emanou por sua própria natureza cativante e envolvente...Porém, já havia outra eleita: sua noiva oficial, com a qual se relacionava paralelamente ao romance com a maior das band-aids da época (chamá-la de groupie seria ofensivo a todo bom entendedor e espectador desse eletrizante longa).
Ela o inspirava a compor, a vibrar com as conquistas da banda, a sentir-se mais homem, a viver as mais vibrantes histórias. Com ela, ele alcançou a plenitude máxima em uma relação a dois. No entanto, ela não foi a escolhida, posto que a eleita havia sido outra. Ainda que a mágica estivesse ao seu lado, como aliada, a estabilidade e segurança residiam ao lado da noivinha sem graça de sua cidade natal. Vale salientar que o mesmo desfecho se observa aqui: ele a procura com o objetivo de tê-la consigo outra vez, mas ela o rejeita, cansou-se do posto de musa descartável.
Outra musa inspiradora do cinema por quem nutro especial afeto, ademais, é a sexual e irreverente Tiffany, de "Silver Linings Playbook", papel que rendeu a Jennifer Lawrence seu primeiro Oscar. Neste filme, sua personagem é uma ex-nifomaníaca viúva com alma de artista e sinceridade afiada, que, em certo momento, cruza o caminho do personagem de Bradley Cooper, um bipolar sofrendo com dor de cotovelo após ter flagrado sua esposa com outro no banheiro de sua casa, enquanto transavam ao som da música que havia tocado no casamento deles. Após o flagrante, num surto típico, parte para a agressão desmedida e acaba sendo internado numa clínica.
No processo de recuperação, já fora da clínica, conhece Tiffany, com quem divide muito em comum, logo construindo uma insólita amizade marcada por momentos de patadas e amadurecimento mútuo. Ela o ajuda a sentir-se normal de novo, a restabelecer sua estima por si próprio e o respeito frente à família e ex mulher. Há uma inequívoca tensão sexual gritantemente podada por ele e, num primeiro momento, instigada por ela, que nos deixa hipnotizados à espera pelo momento em que ambos se entregarão aos desejos da pele e da alma.
Os dois sentem o mesmo vazio dentro de seus corações, além de serem igualmente deslocados na sociedade. Assim, aproximam-se, usam um ao outro para superar as fortes dores advindas de amores pretéritos. O que se vê é a musa inspiradora apaixonar-se, como de praxe, sozinha e sofrer ao perceber que não será eleita...Até ele assumir para si próprio que também gosta dela. Em suma, muitas coisas acontecem e um não tão surpreendente desfecho pode então ser visualizado.
Portanto, a grande moral que pretendo passar é essa: ainda que as grandes historias de amor costumem envolver um casal que, apesar de todas as dificuldades interpostas, termina junto, há também aqueles romances que não necessariamente possuem um desfecho certo, mas que são regados com tanto ou mais afeto e por isso merecem nossa reflexão no presente momento.
Dedico esse texto às musas inspiradoras da vida real. Acredito que toda mulher seja, tenha sido ou venha a ser a musa inspiradora de um cara ainda, e a elas dedico minhas palavras e meu sincero apreço.
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